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Letramento tecnológico para fundadores

Foto do escritor: André TorbitoniAndré Torbitoni

Domine a comunicação com seu time de tecnologia

Durante uma reunião de produto com o time de tecnologia, termos como API Rest e API Gateway começam a ser discutidos com naturalidade pelas pessoas desenvolvedoras. Você, uma pessoa de negócio, começa a sentir que as coisas podem estar saindo do seu controle, bate um desconforto e, de repente, todos estão imersos discutindo termos técnicos. O que deveria ser uma conversa estratégica se transforma em um enigma impenetrável para pessoas à frente da estratégia sem uma base sólida em tecnologia.



Se essa sensação é tão familiar quanto desconfortável para você, você não está sozinho. Muitas lideranças não técnicas me procuram com esse mesmo dilema: "Devo investir tempo para entender essas questões técnicas, estudar programação ou confiar cegamente nas decisões da equipe de tecnologia?"


Esse costuma ser um assunto desgastante, especialmente quando a relação entre a liderança e o time de tecnologia já está tensa e o risco da má comunicação pode custar muito caro, em termos de risco, oportunidades perdidas e, eventualmente dólares em um serviço cloud contratado sem necessidade.


Esse sentimento de estar "vendido” ao "tecniques" pode ser mais do que frustrante. Ele pode ser perigoso para a saúde do negócio. Afinal, decisões tecnológicas equivocadas podem impactar diretamente o crescimento, os custos e até mesmo a viabilidade do produto.

Vamos questionar como e por que esse descompasso acontece e como apenas um letramento tecnológico pode ajudar a mudar o jogo. Mas antes, precisamos eliminar alguns comportamentos que inviabilizam esse domínio.


Times de tecnologia reativos


O primeiro ponto que impede essa comunicação é o time em um estado reativo. Por motivos de cultura organizacional, histórico profissional e até mesmo personalidade, é muito comum pessoas de tecnologia adotarem um comportamento reativo, respondendo às demandas do negócio só quando elas surgem, e deixando de antecipar necessidades e oportunidades. Isso vai criando, aos poucos, uma dinâmica em que o time de tecnologia está só "apagando incêndios". Correções de última hora, bugs e problemas imprevistos consomem todo o tempo onde o time poderia estar trabalhando em entregas de funcionalidades, sustentabilidade e manutenção do produto.


Essa forma de trabalho, que dificilmente é identificada a tempo, pode levar a uma série de problemas: atrasos em entregas, estouros de orçamento, falta de alinhamento estratégico e, eventualmente, à frustração e treta. Essa relação estabelecida acaba isolando o time técnico em uma "caverna escura", onde a pessoa founder não faz muita questão de entrar, apenas quer que seu produto apareça pronto na luz do dia no prazo combinado.


Algumas causas frequentes, principalmente em startups


Falta de uma visão clara e metas alinhadas entre a equipe de tecnologia e negócio.

Quando o time técnico não compreende o impacto estratégico de suas entregas, as tarefas se tornam apenas um item no quadro a serem movidos para a direita. Esse descompasso pode ser observado quando o time de desenvolvimento não mostra interesse pelo produto e o negócio também não consegue se comunicar de forma estratégica com o time de tecnologia, mostrando de forma clara e empática como os resultados de determinada entrega vão impactar a empresa e seus clientes.


Dificuldade na gestão de entregas.

Especialmente em startups, com times autogerenciados, onde muitas vezes a implementação de uma metodologia ágil é feita de forma superficial. Vale relembrar o ponto discutido no artigo "Você não é ágil só porque tem um board!", onde muitas equipes adotam metodologias como Scrum ou Kanban, acreditando que o simples uso de ferramentas e a realização de sprints garantem agilidade, a aplicação superficial dessas metodologias resulta em um ambiente de improviso, onde emergências dominam o dia a dia e o planejamento estratégico de longo prazo é negligenciado.


Desalinhamento entre a visão de negócios e a execução técnica.

Equipes de negócios não conseguem explicar suas demandas de maneira clara ou são limitadas pelo bloqueio do time de tecnologia em se interessar pela solução e não pelo problema. Isso leva as equipes técnicas a trabalharem em soluções idealizadas por elas mesmas, com informações incompletas e baseadas em suas crenças, sem levar em consideração o usuário ou até mesmo as estratégias de negócio. Como resultado, há desperdício de recursos, retrabalho e oportunidades perdidas, reforçando ainda mais a cultura da reatividade. Vamos aprofundar esse ponto na próxima sessão.


Cuidado com o vão entre negócio e tecnologia


A distância entre a gestão de negócios e a equipe técnica cria uma barreira que pode comprometer a eficiência de toda a operação. Pessoas fundadoras que não têm um background técnico enfrentam o desafio de traduzir objetivos de negócios em requisitos tecnológicos claros e realizáveis, principalmente quando na ausência de uma pessoa de produto.


Essa lacuna de entendimento pode levar à criação de soluções tecnológicas que não atendem plenamente às expectativas de negócios, ou pior, que são inviáveis ou incapazes de gerar valor real.


Essa desconexão não é apenas uma questão de comunicação, ela impacta diretamente a execução. Sem uma ponte sólida entre a visão estratégica e a execução técnica, o resultado é um produto que pode parecer desconexo, entregue fora do prazo ou, muitas vezes, que falha em resolver o problema que motivou seu desenvolvimento.


E o pior? Esses problemas muitas vezes só ficam evidentes depois de meses (ou até anos) de trabalho e de recursos investidos.


A importância do engajamento técnico com o propósito do negócio


Aqui na Uníssona, reforçamos constantemente que tecnologia é um meio para um fim. Muitas vezes, por expectativas precipitadas, o negócio demanda que a tecnologia resolva um problema específico, cabendo ao desenvolvedor elaborar a jornada, as telas e os textos de toda uma experiência que pode não funcionar. A tendência de muitos times de desenvolvimento é se empolgar em utilizar tecnologias e se verem pedidos ao implementar soluções complexas, como uma biblioteca de tradução, enquanto o produto ainda não alcançou uma escala nacional.


Além disso o negócio precisa estar apropiado das tendências e necessidades tecnológicas, estar consciente que para ter um produto no ar, toda uma plataforma deve estar bem estruturada, com frontend, backend, serviços, APIs, banco de dados, infraestrutura, custos e, principalmente, manutenção contínua.

Saber quanto e quando amadurecer essa estrutura é uma conversa estratégica que a liderança, mesmo não técnica, precisa estar alinhada. Prever custos e esforços empenhados evita surpresas desagradáveis, por exemplo, uma pequena validação demorando mais de um mês para ser entregue ou uma grande venda B2B exigindo uma plataforma que não contempla soluções adequadas de capacidade, compliance e segurança.


Aqui é onde o conhecimento técnico se torna tão estratégico.


Papéis que fazem a ponte entre tech e negócio


Para empresas que não possuem um CTO, esse alinhamento se torna ainda mais crítico. O CTO geralmente atua como a ponte entre a visão de produto e a execução técnica, garantindo que as decisões tecnológicas estejam alinhadas com os objetivos estratégicos da empresa. Em sua ausência, a responsabilidade recai sobre os founders, muitas vezes não técnicos, de adquirir um letramento tecnológico suficiente para tomar decisões informadas e orientar o time técnico de forma assertiva. É precisamente para apoiar essas empresas que voltamos nossos esforços.


Uma pessoa de produto também é fundamental para facilitar essa comunicação. Essa pessoa valida que as soluções propostas estejam alinhadas com as expectativas do mercado e dos clientes, viabilizando uma visão compartilhada entre todas as áreas envolvidas no desenvolvimento do produto. O product manager atua como um intermediário, traduzindo as necessidades de negócio em soluções de produto claras e validadas, para que a equipe de tecnologia compreenda o propósito e os objetivos estratégicos por trás de cada iniciativa.


Além do Product Manager, contar com uma liderança técnica menos estratégica, mas focada no nível tático, também pode ajudar a garantir esse alinhamento entre tech e negócio, fortalecendo a integração das equipes. Essa liderança tática atua diretamente com a equipe de desenvolvimento, facilitando a comunicação, resolvendo impedimentos e assegurando que as tarefas estejam alinhadas com as prioridades estabelecidas pela visão de produto e estratégia da empresa.


Soluções para evitar o ciclo reativo


Para evitar que sua equipe de tecnologia caia no ciclo de trabalho reativo, algumas práticas podem ser revistas:


  • Refinamento de demandas, transformando necessidades de negócio em soluções de produto que só então podem ser quebradas em tarefas de tecnologia, já refinadas e especificadas.

  • Planejamento de ciclos de entregas, voltados não apenas para demandas imediatas, mas também para evoluções de produto, criando um ambiente pró ativo e estratégico.

  • Revisões frequentes ajudam a identificar desvios e antecipar problemas, orientando as entregas para sempre agregar valor.

  • Rotinas de Feedback: como falamos em "Você não é ágil só porque tem um board!", é essencial que as rotinas e eventos foquem em entregar valor para o time, promovendo a cultura de errar rápido e corrigir o curso o quanto antes.

  • Comunicação regular e clara com a liderança de negócios garante que o time técnico esteja sempre alinhado com os objetivos estratégicos da empresa, evitando mal-entendidos e retrabalhos.


Enquanto o time tech estiver em um estado emocional de eterna dívida, culpa e reatividade, seu domínio em discutir termos técnicos será visto como uma ameaça e todo o esforço pode ir por água abaixo.


A Importância do Letramento Tecnológico


Compreender os fundamentos de tecnologia capacita pessoas fundadoras que não possuem lideranças de produto ou tecnologia a tomarem decisões mais direcionadas e assertivas. Você não precisa aprender a programar, um repertório de conceitos já é o suficiente para acompanhar o desenvolvimento do seu produto de forma estratégica, tornar as discussões mais produtivas e alocar recursos.

Por exemplo, ao entender a diferença entre uma API RESTful e API GraphQL, você poderá questionar se a solução técnica proposta realmente agrega valor ao seu modelo de negócio, em vez de apenas confiar cegamente na recomendação da equipe de tecnologia, a diferença pode significar uma economia significativa de tempo e dinheiro, além de uma execução com menos distrações e alinhada aos objetivos estratégicos e à visão de produto da empresa.


A falta desse conhecimento em conduzir o alinhamento do time de tecnologia pode levar a:


Decisões erradas de investimento:

Sem uma análise adequada, é fácil investir tempo, recursos e dinheiro em soluções desnecessárias ou que não atendem ao objetivo real do negócio, sem o entendimento técnico, você pode não perceber que uma solução aparentemente atraente possui custos, limitações ou necessidade de manutenção que se tornariam inviáveis a longo prazo.


Escopo mal definido:

Não dominar a comunicação com tecnologia pode resultar em mudanças constantes no escopo causando atrasos e soluções que não entregam valor, sem falar na frustração, pois você nunca verá o fim do produto e os desenvolvedores precisariam constantemente se adaptar a novas demandas, prejudicando a moral do time.


Tecnologia como um meio para o fim

Por capricho do time técnico, uma tecnologia complexa pode ser adotada sem ganhos reais para a entrega de valor, quando a equipe de desenvolvimento, movida por entusiasmo decide implementar ferramentas ou frameworks que não são necessários para o seu produto, elas introduzem complexidade desnecessária, aumentando a curva de aprendizado e os custos de manutenção.


Além disso, a adoção de tecnologias inadequadas pode resultar em um produto mais pesado e menos eficiente, prejudicando a experiência do usuário e a performance geral.


Relacionamento com o time desgastado:

Quando a liderança não entende o que está sendo discutido, a equipe de tecnologia pode se sentir desmotivada, sem conseguir comunicar suas ideias e preocupações, esse desgaste pode levar a frustração e à falta de reconhecimento, acabando com a moral da equipe, gerando mal-entendidos sobre as prioridades de negócio, desalinhamentos e consequentemente atrasos.


“Não saber o que você não sabe”:

Founders não técnicos que desconhecem dos aspectos críticos da tecnologia que podem impactar a evolução e operação do produto a longo prazo, levando a requisitos e decisões inesperadas.


E como evoluir nesse conhecimento?


O letramento tecnológico não é apenas uma vantagem competitiva; é uma necessidade para qualquer fundador que deseja crescer seu negócio de forma sustentável, tendo noção dos riscos, investimentos, prazos e a própria viabilidade do produto.


Estamos elaborando um material extenso e organizado com o essencial para capacitar pessoas a se comunicarem com o time de tecnologia. Vamos cobrir os fundamentos tecnológicos no contexto de startups, como arquitetura, infraestrutura, plataformas e aplicativos, linguagens, dados, segurança, e o ciclo de vida de um software. Além disso, oferecemos um guia contendo termos e conhecimentos sumarizados e organizados, acompanhados de prós, contras, casos de uso, exemplos e contextos para cada conceito.


Saber apenas o significado dos termos técnicos não é suficiente, queremos que você domine através de contexto, prós e contras, casos de uso cada tecnologia. Nosso objetivo não é de dar um dicionário, mas sim empoderar você a participar ativamente das discussões com seus investidores, CTO, desenvolvedores, fornecedores terceirizados, sabendo que as decisões tecnológicas estejam alinhadas com a estratégia do seu negócio.


Se você estiver interessado em acessar esse material, deixe seu e-mail no formulário abaixo. As atualizações e melhorias do conteúdo também serão disponibilizadas ao longo do tempo.




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